Review | Atelier Yumia: The Alchemist of Memories & the Envisioned Land
Desenvolvedora: Gust
Publicadora: Koei Tecmo
Gênero: RPG, Simulação, Exploração
Data de lançamento: 21 de março de 2025
Preço: R$ 319,00
Formato: Digital/Físico
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela Koei Tecmo.
Revisão: Manuela Feitosa
Àqueles que conheceram Atelier através das aventuras de Reisalin “Ryza” Stout finalmente poderão esquecer as discussões acaloradas e fetichistas sobre suas coxas excessivamente grossas, pois agora a franquia esta passando pela sua tradicional fase de transição, dando lugar a uma nova protagonista.
Atelier Yumia: The Alchemist of Memories & the Envisioned Land é algo completamente novo e introdutório, em suma, um início seguro para novatos. Mais do que isso, o jogo representa o começo de um novo ciclo: isso significa que a base de Atelier foi renovada com um novo rostinho de garota fofa de anime para promover a marca, enquanto traz novas ideias para revigorar sua fórmula e se manter a par do que há de moderno no mercado. Esta tradição é mantida religiosamente desde a saga Salburg iniciada lá em 1997.
Dito isso, a mais nova entrada se mostra ainda mais ambiciosa em escopo ao trazer uma exploração de mundo aberto robusta, exaltando um aprimoramento notável em cima daquilo que vimos em Atelier Ryza 3: Alchemist of the End & the Secret Key. Além disso, Atelier Yumia conta novidades distintas em seu combate de ação enquanto o “Synthesis” é ressignificado para se encaixar em uma nova lore.
Ou seja, Atelier Yumia adota tendências visando expandir a série para um público mais abrangente. Se é bem-sucedido ou não ai é só lendo a review até o final, ou achou que eu iria entregar tudo aqui? Enfim, espero que você, leitor, se esforce tanto quanto o meu revisor e fique até o fim sem pegar no sono pois sou um pouco prolixo. E adianto logo que sou um grande fã de Atelier, portanto, aproveito o espaço para dar carteirada deixando em destaque o que já cobri aqui no NintendoBoy:
- Review | Atelier Ryza: Ever Darkness & the Secret Hideout;
- Review | Atelier Ryza 2: Lost Legends & the Secret Fairy;
- Review | Atelier Ryza 3: Alchemist of the End & the Secret Key;
- Review | Atelier Marie Remake ~The Alchemist of Salburg~;
- Review | Atelier Sophie 2 ~The Alchemist of the Mysterious Dream~;
- Review | Atelier Mysterious Trilogy Deluxe Pack;
- Review | Atelier Rorona ~The Alchemist of Arland~ DX;
- Review | Atelier Totori ~The Adventurer of Arland~ DX;
- Review | Atelier Meruru ~The Apprentice of Arland~ DX.
Transforme o tabu em uma benção
Nota: todas as screenshots deste texto foram tiradas do Switch Lite, portanto, a qualidade final não corresponde à versão no modo Dock.
A franquia Atelier é conhecida por sua estrutura narrativa despretensiosa, contando uma história saudável com algum misticismo envolvendo alquimia, exaltando temas como amizade, amadurecimento, yuri bait e dramas de menor escalada em um ambiente de vibe açucarada de vida cotidiana.
Mas aí chegamos em Atelier Yumia, que apesar de manter parte dos tropes, apresenta um tom soturno em sua composição e uma narrativa um pouco mais densa que o usual, tratando temas como preconceito, experimento humano, e se eu não estiver maluco da cabeça faz até alusão a acidentes nucleares.

Neste contexto, conhecemos Yumia Leissfeldt, uma alquimista em ascensão que se ingressa à Equipe de Pesquisa para ajudar a explorar o continente de Aladiss em ruínas, outrora palco de uma catástrofe —uma explosão de mana— que deu fim ao Império Aladissiano. Este acontecimento no entanto está intrinsecamente correlacionado ao uso da alquimia, que passou a ser vista como um tabu, uma arte proibida, consequentemente tornando Yumia alvo de represálias dos que acham que a alquimia nunca poderia ser usada para o bem.

O talento de Yumia para com a alquimia é colocado à prova, uma vez que sua função é determinante para que a Equipe de Pesquisa avance através de uma forte densidade de mana no ar chamado “manabound”, que causa efeitos negativos àqueles que se expõem a ela. Além disso, a protagonista contará com ajuda de um grupo altamente capaz da Equipe de Pesquisa liderado por Viktor, grupo este que fará parte do núcleo de desenvolvimento da campanha e trará para a mesa as interações que mostram seus respectivos backgrounds, que, coincidentemente envolve os acontecimentos prévios que estamos desvendando.

A história de Atelier Yumia é envolvente e o mistério envolto do antigo Império Aladissiano é instigante o suficiente para mantê-lo engajado. Eu não acompanhava algo com este tom de seriedade desde os jogos da saga Dusk e todo o design narrativo foi assertivo. Mas é bom esclarecer que o jogo não ostenta um roteiro profundo escrito por Neil Drukmann e nem traz citações filosóficas como Yoko Taro. Ainda assim, Atelier Yumia entrega muito para os padrões de Atelier, ainda que mantenha a essência de seus clichês que abordam o valor da amizade e momentos descontraídos entre os personagens que contribuem para uma atmosfera aconchegante.

E por falar nos personagens, o elenco principal também ajuda muito a fisgar o jogador deste o início. Claro, isso não é um feito exclusivamente de Atelier Yumia pois a série sempre foi boa em apresentar um cast afável, diversificado, com design de personagens divertido, enquanto trabalha cuidadosamente suas backstories através dos events — que para quem não sabe, é a parte da interação social que ajuda a termos uma percepção mais humanizada do elenco, além de colaborar para os momentos de slice of life. No entanto, especialmente em Atelier Yumia, eu diria que os momentos de descontração são prejudicados em detrimento à sua proposta de ser um jogo com foco na exploração em uma ambientação pós-apocalíptica.

Tal precarização no entanto foi algo que me deixou genuinamente decepcionado, e senti que o jogo estava sendo retrógrado ao lembrar que os jogos da Ryza começaram desta forma. É bom frisar que Atelier sempre foi conhecido pelo seu viés de cozy game devido a estes fatores, embora eu entenda que a lore e o setting de Atelier Yumia force o jogo a se afastar um pouco disso. Ainda assim, estou otimista para que as coisas melhorem nas sequências.
No mais, se Atelier Yumia é bem acima da média na parte narrativa, eu posso dizer o mesmo para o seu mundo explorável, que parece tão diversificado como nunca. Irei elaborar mais sobre no tópico a seguir!
E se Xenoblade Chronicles e BOTW tivessem um filho?
O mundo explorável de Atelier Yumia talvez tenha sido uma das melhores adições à franquia em mais de duas décadas de existência. Para os que vieram dos jogos da Ryza, Atelier já flertava com o mundo aberto desde 2016 quando Atelier Firis: The Alchemist and the Mysterious Journey introduziu uma exploração em sandbox mais encorpado. Mas foi só em Atelier Ryza 3 que tivemos um vislumbre de como a série se adaptaria a esta tendência.
Para o seu mundo, Atelier Yumia possui um setting pós-apocalíptico de cenários vibrantes e vegetação abundante, cenários estes que brincam com o surrealismo de um mundo de fantasia. Não apenas isso, mas ele parece se inspirar em jogos como The Legend of Zelda: Breath of the Wild e Xenoblade Chronicles, destacando elementos de quebra-cabeças e uma construção de mundo bastante convidativa.

Tudo isso culmina para que o “ato de Gathering” —sair para coletar materiais para o Synthesis— não seja mais uma tarefa tediosa ou monótona, como era nos jogos passados. Para além de suas inspirações, Atelier Yumia conta com ideias originais que giram em torno do conceito de mana, enquanto resgata vários dos elementos originais de Atelier Ryza, incluindo as “Ziplines” para pegar atalho, as bases de operações que podemos construir em diversos pontos do mapa, Skill Tree, e World/Random Quests.

Eu não sou o maior entusiasta de jogos de mundo aberto, mas Atelier Yumia conseguiu me prender em seu mundo. Há muita coisa para fazer, é tudo muito interessante e divertido de ir atrás, dá até pra dar grau de motoca. Ele funciona de verdade, é isso é um mérito dele e não “fanboylismo” barato. No entanto, é triste dizer que a experiência no Switch é prejudicada devido ao poder obsoleto do hardware.

Mesmo que pense que Atelier Yumia não seja um jogo exigente demais para os consoles modernos, para o console híbrido da Nintendo, no entanto, ele parece se esforçar além da conta para entregar algo minimamente digerível. Ele conta com notáveis quedas de fps mesmo no modo Desempenho, slow-downs, demora no processamento em partes de cenários, e algumas telas de carregamento mais demoradas.
Mas olha, ser dono de Switch as vezes é ser complacente com a falta qualidade técnica que é entregue em muitos third-parties. “Então quer dizer que Atelier Yumia no Switch é tão ruim quando o port de The Outer World ou Mortal Kombat 1?” Calma lá, chefe, também não é pra tanto. O jogo não é desprovido de capricho como Pokémon Scarlet e Violet, mas também não é um milagre da engenharia como Xenoblade Chronicles 3. A partir dessa ideia, cabe a você decidir se é algo que iria tolerar ou não. Eu por exemplo, não achei ofensivo.

Dito isso, até agora mais elogiei o trabalho do que critiquei. Tanto no aspecto narrativo quanto a sua abordagem de mundo aberto são destaques que foram muito bem implementados. Contudo, não posso dizer o mesmo para o sistema de Synthesis, a alquimia, que, pasmem, é o coração de Atelier e a Gust conseguiu negligenciar.
Mana: A energia vital que faz a magia da alquimia acontecer
Atelier sem o sistema de “Synthesis” é como carro sem estrada, queijo sem goiabada, futebol sem bola e Piu-piu sem Frajola. As coisas simplesmente não funcionam.

Mas para entender melhor, o Synthesis é como chamamos o processo da alquimia, que ao mesmo tempo coloca a jogabilidade de simulação no corpo de RPG. Ele é um sistema de crafting robusto e centralizado que usa a ideia da criação estabelecida na pseudociência de uma jeito lúdico e menos metódico. É através dele que tudo em Atelier acontece, desde a progressão da história, na exploração, até mesmo como você irá performar em batalha. Por isso o Synthesis é o coração da franquia.

Em Atelier Yumia, no entanto, o Synthesis foi ressignificado para estar de acordo com a lore da mana, mudando nossa percepção do conceito e na aplicação. Tradicionalmente, as alquimistas jogam os ingredientes num caldeirão mágico e os mexe até que uma explosão resulte na criação do objeto. Aqui, a apresentação muda para algo ainda mais místico e nada próximo do que estamos habituados, onde em vez disso Yumia dança para manipular as partículas de mana fundidas aos materiais sobrepostos. A apresentação é destoante, mas é criativa e bonita de se ver. No entanto, o mesmo não se aplica à gameplay de simulação, que falha miseravelmente em apresentar seus fundamentos de forma didática.

Atelier Yumia trabalha com três princípios básicos no Synthesis: Alchemy Core, Resonance e Mana. Para ser mais prático, o Alchemy Core substitui o caldeirão que vamos colocar os ingredientes, a partir daí, os distribuímos em slots que vão conceber as traits para o produto final. A qualidade do que for criado depende do quão alto for o nível de “Resonance”, para isso requerendo que os materiais tenham o efeito necessário que influencie nisso. Em outras palavras, os ingredientes precisam ressoar entre si dentro do Alchemy Core para garantir a melhor qualidade e os melhores efeitos, só que o jogo não é nada intuitivo; eu simplesmente não consegui entender como calcula o diabo da Mana no Synthesis para explicá-los. Me desculpe.

Além disso, o jogo pressupõe que, se você não quer se importar com o Synthesis, basta automatizá-lo através do auto-add de ingredientes. Olha, eu entendo a importância da acessibilidade nos jogos, acredito que a parte automática seja algum tipo facilitador, mas pense bem: quando você faz com que todo o processo da alquimia que é o chamariz de Atelier seja pulado por completo, você está apenas admitindo que falhou em proporcionar algo minimamente interessante de brincar.

Acredito que jogadores veteranos vão se esforçar para entender e usarão o Synthesis em razão de criar os melhores itens. Porém, no primeiro momento que os novatos se sentirem intimidados pelo péssimo tutorial e a interface confusa do sistema, irão apenas pressionar o botão do automático e terminar o jogo sem nunca entender como fazer proveito dele. Dito isso, Atelier Yumia oferece um conceito interessante porém mal aplicado, resultando em um dos piores Synthesis da franquia e espero que a equipe de desenvolvimento da Gust leve isso em consideração nos jogos futuros.
Okay, o combate é legal demais!
Eu vou contar um segredinho para vocês: Eu não sou adepto a jogos de ação num geral, e isso inclui os action-RPGs. Pode ser que eu curta um ou outro, como por exemplo Ys, mas o fato é que o motivo disso se dá pelas coisas na tela acontecerem mais rápido do que a minha mente pode processar, então na maioria das vezes estou apenas esmagando botões para ver se algo legal acontece.
Dito isso, admito que não me dei bem com o estilo de combate “ATB” introduzido na trilogia Secret, os jogos da Ryza, por isso não me animei quando Atelier Yumia não retornaria ao tradicional sistema de batalha baseado em turnos. Contudo, não posso dizer que foi uma experiência ruim não, muito pelo contrário, seu combate é tão intuitivo e viciante que me fez dar atenção de verdade a ele.

Por definição, o sistema de batalha de Atelier Yumia é um “command-based real-time turn-based“, isso te lembra alguma coisa? Isso mesmo, ele é mais inclinado ao estilo de Xenoblade Chronicles onde a ação ocorre em tempo real com comandos de input, porém tirando a parte dos golpes automáticos e aqui a party de seis membros é dividida entre frente e retaguarda. Porém, diferente de Xenoblade e até mesmo do próprio Atelier Ryza, a UI é mais limpa e a curva de aprendizagem é mais cadenciada.

O jogo também trabalha com movimentação livre para um viés mais estratégico onde é possível desviar do ataque inimigo saindo de seu campo de visão ou apenas defendê-lo diretamente para depois emendar um “Friend Action” com os personagens da retaguarda ou pivotear entre os que estão na linha de frente. Eu me surpreendi sobre o quão descomplicado o combate é, e eu não me importaria se a Gust repetisse ele nos próximos jogos desde que ele seja tão intuitivo quanto ao de Atelier Yumia.

Para se ter noção, ele não é apenas gostoso e fácil de aprender, como também pode ser conveniente com opções de configuração que atendem às suas preferências. Por exemplo, caso a câmera padrão em batalha te incomode, você pode controlar o movimento dela com o “Focus Camera” e a “Skill Camera”. Outras opções de facilitadores que não tiram a graça da batalha são a configuração de “Auto-Guard”, que é autoexplicativa, e o “Easy Precision Counter”, que ativa o Precision Counter com o pressionar de um botão após se defender.

No fim das contas, o que eu elogiei neste texto foram aspectos mais tradicionais de um JRPG moderno de alta escala. Tanto a história de tom mais sombrio e por que não um pouquinho mais madura, a exploração de mundo e o combate foram muito bem feitos. Em especial, o sistema de batalha de Atelier Yumia conta com uma evolução que é notável contrastando com a saga Secret, e nele às vezes menos bagunça é melhor.
Mergulhe no mundo fascinante de Atelier Yumia!

Atelier Yumia: The Alchemist of Memories & the Envisioned Land é uma aventura expansiva que busca aumentar seu escopo e ser abrangente, mas sem perder sua identidade. O mundo explorável é fascinante, a história muito bem estruturada e o combate é viciante.
No geral, ele é um RPG muito competente quando se trata em apresentar mecânicas de jogabilidade que tendem atrair um grande público. Em contrapartida, fãs veteranos podem se decepcionar ao verem que elementos que dão singularidade à série são negligenciados, especialmente o Synthesis que não é nada intuitivo e mais convida novatos a se afastarem dele do que realmente se interessar. A versão de Nintendo Switch também é algo a se considerar, mas como eu disse na análise, ele está longe de ser o pior dos ports na plataforma e você se adaptará bem caso o híbrido seja a sua plataforma principal.
Dado as ressalvas, quando falamos da composição do jogo, eu genuinamente não consigo ver Atelier Yumia fracassar. Ele apresenta muita coisa do que há de moderno hoje que possa atrair turistas, e mesmo que ele peque na sua “fórmula Atelier”, ainda é um jogo altamente recomendado para novatos e veteranos.
Pros:
- Exploração de mundo aberto é instigante, além de deixar o ato de coletar ingredientes menos monótono;
- Apresenta uma trama envolvente repleta de mistérios e aborda temas atípicos na franquia;
- O elenco de personagens não desaponta, é um dos pontos altos do jogo;
- Combate de ação dinâmico e intuitivo.
Contras:
- A versão de Switch apresenta problemas técnicos pontuais;
- Fator slice of life é pífio e um agravante para quem curte esse tipo de coisa em Atelier;
- O Synthesis é um dos piores da série.
Nota
8
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